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Não é a toa que o Palmeiras está melhorando, o líder Felipão é direto e sem firulas !
Felipão não tem dúvidas de que o Palmeiras fará frente aos outros três grandes na fase decisiva do Estadual.
O Palmeiras merece a liderança? E tem força para brigar pelo título?
Temos um grupo bom, com peças que se destacam como o Valdivia e o Kleber. Admito que depois do Criciúma, lá atrás, esse é o trabalho mais difícil que assumi. Mas temos uma situação de grupo hoje de jogadores que não reclamam de nada e que querem vencer. O Kleber é fantástico, está jogando muito, mas tento mostrar para a direção que ele precisa ter um centroavante ao seu lado. E o Valdivia é um craque, joga muita bola e marca mais do que a torcida pensa. Os outros times podem ter melhores opções de banco, um elenco mais harmônico, mais jogadores por posição, mas como disse, se estamos na frente alguma coisa temos de bom, não podemos ser tão ruins assim. Temos uma disciplina tática sendo seguida, disposição, boa vontade. Mas se amanhã eu perder o Kleber, como fico? Tenho o Vinícius, de 17 anos; o Dinei está machucado; tenho o Miguel, de 18 anos, que na base não aprendeu a chutar de pé esquerdo. Como posso pedir a eles para que façam gols se nem sequer saíram das fraldas? Aí você vai para o Brasileirão e pega o Cruzeiro, que tem 12 centroavantes. O São Paulo tem Fernandão, Luís Fabiano e mais uns oito… O Santos tem um monte… Mas para o Brasileirão teremos o Maikon Leite, que é bom, joga pelos dois lados. E se trouxermos um centroavante alto de área brigaremos pelo título.
A defesa está bem, mas no meio do ano o Danilo vai embora…
Sim, mas aí já estamos buscando outro zagueiro. E podemos liberar algum jogador de uma posição em que estamos bem servidos para trazer um reforço. Volante, por exemplo, tenho 82.Dá para liberar alguém, porque temos bons jogadores na posição. E a renovação do Assunção está encaminhada.
E qual a utilidade do time B?
Foi a minha pergunta ao presidente. Disse a ele: põe aí essa molecada para treinar na Segundona. Vão correr, se matar e um ou outro vai sair. O Ramos, um meia que era uma promessa, está sempre machucado, nunca o vi treinar. O que posso fazer? O problema da nossa base também é que ela joga num nível lá em baixo e no profissional o nível está lá em cima. É muita diferença. Mas temos uns meninos comigo: o Gabriel, o Patrik, o Vinícius… Eles vão entrando aos poucos. O Patrik se firmou. Mas o Gabriel, depois da Seleção, treina bem, treina mal, treina bem…
E por que o Adriano não veio para o Palmeiras?
Fiz duas reuniões com ele e conversei uma vez com a mãe dele também. Era setembro ou outubro, não me recordo mais. Foi antes das eleições no Palmeiras. Depois que o presidente Tirone foi eleito, a diretoria me disse que o clube não tinha condições financeiras para isso. Se ele tivesse vindo seria ótimo. Um monstro daquele tamanho, trombava com uns dois e abria espaço para o Kleber, o Valdivia, o Patrik…
Você sempre quis um centroavante para jogar com o Kleber. Tem chance de conseguir?
Quase tivemos um. Era o Leandro Damião. O Inter tinha outros jogadores para a posição e a gente deu uma beliscada lá, poderia fazer uma combinação com alguém do nosso elenco. Quase deu. Hoje está mais difícil. Não temos dinheiro e então temos de fazer acordos, trocas, vender um, emprestar outro. É preciso ter um investidor para contratar alguém de fora, da Argentina por exemplo. Mas para comprar um mais ou menos não quero, não vale a pena. Temos o Dinei ainda, que está se recuperando e já teve o seu empréstimo prorrogado. Você pode dizer que o Dinei não é o Pelé, e não é mesmo, não é uma maravilha, mas cabeceia bem e estava ajudando o Kleber.
E como você está fazendo para reforçar o elenco?
O Galeano, que é o gerente de futebol, faz um trabalho muito bom. O João Vitor custou zero. Chico, zero. Pardalzinho, zero. Adriano, zero. Thiago Heleno, zero. Eles não custaram nada, só o salário mesmo. E ainda o Palmeiras ficou com 10% de um, 20% de outro… É o começo. Com o salário que o Edinho ganhava, hoje o clube paga o João Vitor, o Thiago Heleno, o Adriano e o Pardalzinho. Quer dizer, pelo mesmo custo de um jogador que eu liberei agora tenho quatro, ganhei opções. Agora, veja o caso do Patrik: ele era para ter saído no começo do ano, mas se firmou e já tem uma proposta muito boa para sair. Mas esse pessoal mais novo a gente vai trabalhando a cabeça para ficar um pouco mais. Eles também sabem que tenho influência no futebol, que tenho boas ligações, e que amanhã ou depois posso auxiliá-los.
A Arena Palestra atrapalha o time neste momento?
Vai tomar atenção mesmo. E tem de ser assim. O presidente vai ter mais atenção para a Arena do que para o futebol, é normal. O problema é a briga em torno dessa obra. Cada um tem uma ideia, vai, não vai… Para o futebol, o bom era que o presidente fosse meia hora por dia ao treino e depois pudesse dizer ‘gostei disso, não gostei naquilo..’. Sabemos que o foco hoje é a construção da Arena e não o futebol. Paciência.
E a parte política? Atrapalha muito a sua vida?
Não dá para a cada dois anos a ala verde querer tomar o poder da ala branca, e um ficar contra o outro. É preciso ter uma sequência administrativa. O problema é que você não tem dinheiro para nada, é obrigado a fazer composições e liberar jogadores para ter um caixa, que nem é dinheiro vivo, é dívida menor na folha do futebol. Mas essa é a condição que temos. O presidente tem boas ideias, mas é novo. O bom é que ele ouve a gente, e se seguir algumas ideias que temos colocado para ele fará uma boa gestão. Ele faz uma leitura boa da situação, é reservado, quieto, sabe ouvir. O Palmeiras nem é o clube que deve mais na praça. Na lista dos devedores que vejo por aí, há pelo menos uns dez na frente. Sou a favor que se faça uma política de conter gastos, mas também uma política de planejamento para dois, três anos. Se tem de enxugar, enxuga. Mas tem de avisar a torcida para ter paciência. O Internacional fez isso há uns dez anos. A diretoria arrumou o clube e avisou que não estaria preocupada com o futebol. Arrumou a casa e depois começou a ganhar campeonatos. Hoje os clubes estão sucateados. E os empresários tomam conta de tudo.
Ainda são uma praga no futebol?
Uffff! Hoje quem ganha são eles e os clubes vão se afundando. Eles pegam o dinheiro e ficam com tudo, não investem no clube. Pagam tudo para o menino e viram procuradores dele. Uma praga. O clube quando pega um menino já sabe que ele tem contrato com determinado empresário e que se vender, 70% serão do agente. Os clubes aceitam isso. Mas se você quiser montar uma estrutura decente, vai bater de frente com muita gente. E para fazer isso tem de passar a ideia para o torcedor e ganhar uma coisinha aqui outra ali para ter um refresco (de pressão). O que digo para os amigos em Portugal é que se não tiver uma reformulação no futebol mundial a coisa vai ficar feia, os clubes vão se afundar.
E por que você está jogando fora do Pacaembu?
Porque seu eu pago R$ 100 mil lá, um exemplo, vou pagar R$ 20 mil no Canindé, R$ 20 mil na Arena Barueri. E no Canindé se forem 10, 12 mil pessoas o estádio fica cheio, o ambiente ajuda. Mas no Brasileiro vamos ter de jogar no Pacaembu, porque o Canindé não comporta grandes jogos.
O que você sabe sobre o Kaká?
Sei que ele tem uma bendita lesão há tempos e que o José Mourinho (técnico do Real Madrid) cansou de esperar por sua recuperação. Ele foi contratado como top e não consegue se recuperar. Os caras estão achando que é preciso fazer uma reviravolta na situação. As pessoas esperam mais dele do que de outros. Acho que mais um ano, do jeito que está, ele vai embora.
O Kaká teve o caminho inverso do Cristiano Ronaldo, que você também conhece bem…
A média de gols dele no Real é a mesma do tempo do Manchester United. E duvidavam que ele fosse manter. Sempre foi fácil trabalhar com ele. Gosta de se vestir bem, é verdade, tem lá umas gatas, mas é profissional, não é baladeiro. Ele tem em sua casa uma sala de musculação, onde faz tudo o que precisa. Quando está machucado, contrata um amigo fisioterapeuta para acompanhá-lo. Ganha bem, mas investe nele próprio como atleta. Gosta de uma mulherzinha, de joias, roupas bonitas… Mas nos próximos cinco anos vai sempre estar na lista dos melhores.
E o Messi?
Bom! Muito bom e goleador. O Maradona era bom, espetacular, mas não fazia metade dos gols que o Messi faz. Ele dá gols para os companheiros e ainda marca os seus. E não baixa o nível técnico nunca.
O Ronaldinho Gaúcho voltará a ser o que já foi?
Acho que ele vai crescer uns 20% em relação ao que estava jogando no Milan, e isso vai ser uns 60% apenas do que era nos tempos do Barcelona. Eu achava que o Ronaldinho também fosse durar uns oito anos lá em cima, mas foi bem só até 2006. Acho que ele tinha condições de hoje estar um pouquinho só abaixo do Messi.
Você é a favor de uma reformulação na Lei Pelé?
Tem de mudar bastante. Antes, diziam que o jogador era um escravo, mas não era tão escravo assim. Recebia 15% nas negociações. Era uma vida boa, melhor que a de muita gente. Antes os negócios eram de clube para clube, e parte do que o clube recebia era investido num outro jogador, aqui e ali. Hoje só os empresários ganham no futebol.
Como você acompanhou a aposentadoria do Ronaldo?
Ele demorou para parar. Estava mais gordo do que eu, era alvo de piadas… Não precisava ter passado por isso. Deveria ter parado depois que ganhou a Copa do Brasil.
É a mesma situação do Marcos?
É. A diferença em relação ao Ronaldo é que o Marcos sabe de suas limitações e que já deveria ter parado. Ele vai levando até o fim do ano, quando acaba o contrato. Digo a ele que se estiver bem das dores, eu o ponho para jogar. Embaixo do gol ele ainda é o melhor de todos, disparado. É melhor do que o Rogério. Mas quando precisa se movimentar mais, sente. O plano é respeitar um dos maiores ídolos do Palmeiras, um cara adorado pela torcida e escalá-lo uma vez por mês. Ele deve jogar contra o Prudente.
O que você acha dessa garotada do Santos e do Lucas, do São Paulo?
Acho o Ganso o melhor de todos. Como ele, se tiver um ou dois no mundo é muito. Não tenho dúvida de que está pronto para jogar na Europa. Assim como o Lucas, que me lembra muito o Kaká. É ótimo. O Neymar também é fora de série, ele derruba qualquer marcação.
Você aceitaria comandar a Seleção novamente?
Não, não quero mais. Ano passado eu esperava que o Ricardo (Teixeira, presidente da CBF) se sentasse com o Palmeiras e fizesse um acordo para eu poder trabalhar seis meses no clube e assumir a Seleção em janeiro, mas ele não fez isso. A ideia era fazer uma parceria com o Parreira, que seria o coordenador. Seria ótimo para mim, porque ele não quer mais ser técnico e me daria tranquilidade.
Em 2002 o Antônio Lopes foi o coordenador da Seleção. Você teve problemas com ele?
Houve dificuldades em algumas situações, principalmente porque ele era a favor da convocação do Romário. Queria o Romário.
Você tem ideia de quando vai encerrar a carreira?
Minha ideia é deixar de ser treinador no fim de 2014.
E continuaria trabalhando no futebol ou se afastaria?
Continuaria. Se eu voltar para Porto Alegre, tenho um projeto para ser o manager geral do Grêmio, o responsável pela escolha dos técnicos de todas as categorias de base. E nessa função eu poderia até trabalhar no Internacional ou no Corinthians, o que como técnico é impossível por minha ligação com Grêmio e Palmeiras.
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